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O SEGUNDO FILHO DE DEUS

  • Paulo L. Menezes
  • 30 de jul. de 2014
  • 4 min de leitura

PRÓLOGO

“E Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”

JOÃO 3:22

ELE lembra. Ele não se esquece de nada. Enquanto caminha, lembra-se com nitidez: dos jardins celestiais, dos sublimes corais de anjos, das ruas de ouro, dos muros de cristais, da morada preparada para os justos. Lembra-se da sala do trono, da face luminosa do irmão e da voz tonitruante do pai:

− Elohim, filho meu! Criado pelo meu amor. Gerado pelo meu pensamento. Teu irmão, meu primeiro filho, nascido de mulher, para que se completasse o ciclo da criação, o qual os humanos em carne vivente chamaram: Yeshua Ben-Yosef, sentado a minha direita por mérito adquirido, pois se fez carne e habitou entre os homens. Foi crucificado e morto, ressuscitou ao terceiro dia. Retornou para junto de mim e tem intercedido constantemente por aqueles a quem aprendeu a amar. Ora, eis que a humanidade se corrompeu da forma mais vil. O evangelho de meu filho foi transformado em artigo de compra e venda, e seu sacrifício perfeito já não é lembrado. Meu nome é motivo de zombaria em todos os lugares. A mais bela jóia lhes entreguei e agoniza com a vasta proliferação do pecado. Não crêem no meu poder, nem nas minhas promessas, ignoram a aliança que com os homens fiz, e, não mais reconhecem o consolador. Eles próprios atraíram sobre si, todo tipo de execração e epidemia. Se hoje voltasse a minha ira contra eles em larga proporção, nenhum se salvaria. Porém, não é esse o meu propósito, sequer tornar o holocausto de meu primeiro filho em vão. Desde o princípio lhes dei o livre arbítrio e dele nunca fizeram bom uso. Preciso que queiram ser salvos para que possa, enfim, salvá-los. Por isso te envio Elohim, em poder e glória, a pedido de Emmanuel chamado “O Cristo”. Estamos na última hora, pratique entre os mortais, milagres e maravilhas, para que creiam novamente em mim e os não percamos, em sua totalidade, para O Enganador, meu mais belo anjo e único adversário.

Drusila desistira de chorar. Seu pranto, implorando um milagre, encharcara o pequeno cadáver de seu filho. Ela mesma sabia da inconsistência de seu pedido, com suas preces toscas, erigidas a um Deus cego e surdo, que havia, há muito, desistido da espécie humana. Também se porventura fosse devolvida a vida ao seu rebento, com que lhe haveria de alimentar? Olhava sem esperanças e via apenas o seco e áspero deserto se estendendo, em todas as direções, além de sua tenda. Os beduínos, seus cavalos, seus camelos e o frágil oásis, pereciam. A Drusila, o cruel destino, parecia, reservara a última visão da calamidade absoluta. Com Efraim nos braços enfraquecidos, saiu em busca de um lugar apropriado para sepultá-lo, impedindo que virasse comida das feras do deserto, cada vez mais numerosas, transitando tranqüilas por entre o amontoado de carcaças, decompondo-se, insepultas, debaixo do sol inclemente. Fixou no horizonte uma silhueta azul-celeste, quase invisível, sem contraste em relação a um céu de poucas nuvens.

Vivendo desde seu nascimento nesse oásis no deserto da Judéia, Drusila vira em sua infância muitas caravanas que passavam em direção à pequena aldeia de Anata, antigamente Anatote, residência de Abiatar, o Sacerdote e de Jeremias, o Profeta. Nesses tempos em que a vida se esvaía, vira muitos partindo, mas, pela primeira vez, via uma única pessoa, a pé, vindo a esse lugar repleto de morte; distante apenas uns dois quilômetros de Jerusalém.

Drusila estreitou os olhos verdes, dominantes de um rosto queimado de sol, no qual, uma beleza selvagem, apesar do sofrimento, teimava em não abandonar. Viu com nitidez, aquele homem, a distância de uns trinta metros. Percebeu que era completamente calvo, pois, ao contrário dos costumes do deserto trazia a cabeça descoberta. Parecia saber aonde ia, caminhava com calma e decisão. Não demonstrava cansaço ou desgaste, por causa do calor que fazia às três da tarde. Diminuiu a velocidade conforme fora se aproximando e a distância de poucos metros a ficou fitando com ternura. Tomada por forte comoção, a jovem mulher ajoelhou-se nas areias escaldantes e reiniciou seu choro; apertando com força o filhote junto ao peito.

O moço achegou-se ao seu lado e a acolheu com o braço, estendeu os dedos da Mão esquerda e tocou a face de Efraim, logo o menino abriu os olhinhos e alargou um sorriso nos lábios infantis. Uma paz comovente dominou o coração da mãe agradecida. Pondo o menino em pé a sua frente o examinou minuciosa, sem parar de chorar.

− Por que choras mulher? − Elohin perguntou-lhe, afastando uma lágrima dela com o dedo. − Teu filhinho está vivo!

− Não pode quem chorava de tristeza, chorar de alegria, perante a realização de um milagre? − disse a mulher, com o rosto contraído em emoção.

− Sorria Drusila! − ele falou descontraído − Vim para trazer vida, e devolver-te a fé e a salvação. Meu pai ainda ouve vossas preces e vê o vosso sofrimento.

Drusila manteve-se em concentração por alguns segundos, depois, perguntou com os olhos arregalados:

− Então, tu és o Messias anunciado pelos profetas?

Elohim pôs-se lentamente em pé e virou-se para olhar o horizonte, então, respondeu com a voz tão baixa que parecia em dúvida:

− O Messias veio para os que eram seus, mas os seus não o receberam.

( Varekai )

 
 
 

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