DÚVIDAS... DÍVIDAS... DIVIDENDOS
- Paulo L. Menezes
- 29 de jul. de 2014
- 3 min de leitura

“É melhor compreender, é melhor aderir. Quanto mais compreendo, mais amo, pois tudo o que se compreende está certo.”
LOUIS PAUWELS
Era bem jovem quando tive meu primeiro contato com as divagações filosóficas, e da mesma forma que meus predecessores partiram das três inevitáveis perguntas: QUEM ÉS TU? PARA ONDE VAIS? DE ONDE VIESTE? Condicionei-me a crer que eram essas questões sagazes, e, que ninguém havia ainda encontrado para si nenhuma resposta que a mim satisfizesse. Parece que já responderam de que somos feitos.
Adquiri o impertinente hábito de questionar as pessoas acerca de tais indagações. Muitos respondiam com notada segurança e diziam: “Tenho muita certeza de quem sou, sei para onde estou indo, como o mundo foi criado, de onde vim e também qual o propósito da humanidade”... Se lhes indagava quais eram as raízes de tais certezas, ouvia as mais variadas respostas, por exemplo: “Baseio-me na fé”... “Na Bíblia”... “Nos mitos”... “Nas lendas”... “Na ciência”... ETC., as outras coisas, e “tal tudo”. Isso me dava um medo danado de ficar adulto!
A maioria dos que se auto intitulavam portadores de um conhecimento além de minha reles e ingênua compreensão, geralmente, acreditavam ter tido uma revelação divina (epifania), contato extraterrestre, encontro com um anjo, bate papo com espíritos, enfim, qualquer argumento cuja veracidade me fosse impossível comprovar. O que inevitavelmente aproximava-me mais e mais dos materialistas e naturalistas, que além de me apresentarem provas que eu podia ver, explicavam-me de forma astuta: os engodos dos sentidos, da química cerebral, das ilusões de ótica e dos desequilíbrios psicológicos da mente humana, que formavam uma realidade/irrealidade plangente.
Sentia alguma atração pelo modo de pensar dos céticos, mesmo assim rejeitava ao nada absoluto.
Como não amar o “jardim dos prazeres”, exposto e vivido pelo sábio Epicuro?
Assisti ainda, em diferentes ocasiões, as preleções de dois indivíduos que afirmavam cada um ao seu modo, terem sido convidados a irem ao INFERNO e ao REINO DOS CÉUS (não estou falando de tragédias gregas nem de DANTE ALIGHIERI), tendo inclusive aceitado e vivido a espetacular aventura e voltado com vida para dividir a experiência com o comum dos mortais... Que podemos nós fazer em relação a isso? Questionarmos tais indivíduos, ou, nos recolhermos as nossas dúvidas e introspecções tentando entender porque tantos casos iguais a esses no decorrer da História, nos assolam os ouvidos.
A natureza conturbada do hominídeo nada mais lhe permite que o alcance de suas funções egocêntricas.
Em meu íntimo jamais pude admitir absoluta incredulidade, sequer uma crença completa, numa duplicidade constantemente fortalecida. De quem se queixa o homem? Queixa-se de si mesmo!
Mitologia, misticismo, filosofia, religiosidade, ciência, ufologia, psicologia,...
No fim todos esperam reconhecimento, e quase sem saber é por isso que se erguem ao raiar do novo dia.
Por ódio ou amor, tenha a bondade de considerar-nos especiais.
Querem que os outros entendam o quanto eles são cultos, belos, geniais, divertidos, loucos ou perspicazes.
Compartilham ideais: serem aprovados, reverenciados, elogiados... Aspiram ao aperto de mão. Esperam tapinha nas costas. O delírio da multidão. A medalha de ouro, o Nobel, o troféu, a coroa... “Veja como se destaca esse menino!”... “Viu o prêmio importante que ganhou esse senhor?”... “Essa senhora sabe do que está falando!”... “Eis a mais bela miss que já se viu!”... “Atentem aos nobres representantes da mais alta casta social”...
Querem continuar, sem que nada ofusque ao seu brilho.
Renegam que sejam macacos de terno ou macacas com vestido da moda... Movidos por compulsões sexuais, implorando para serem notados.
Se soubéssemos da verdade, agiríamos diferente?
Duvido de minhas dívidas e não divido meus lucros...
Continuemos brilhando, estrelas endoidecidas; de que outra forma suportar aos revezes e suplantar a dor, a tensão e o medo?
Ninguém nos tira esse direito, pois a cada dia basta o seu mal... Gritemos em uníssono: ERRAR É HUMANO!... Persistir no erro é MACAQUICE!
Se nos enganamos, chegamos à conclusão de que existimos. Aquele que não existe não se pode enganar.
Precisamente por que nos enganamos, sentimos que existimos.
( Petchanka )
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