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A QUEDA

  • Paulo L. Menezes
  • 24 de jul. de 2014
  • 2 min de leitura

“A vida é uma arriscada aventura ou não é nada!”

Sempre andava sozinho. Olhar perdido no inferno de culpas auto-impostas. Escutando em silêncio os gritos dos outros.

Andando, como quem flutuava nas nuvens de ódio, procurando o rumo para subir ao céu.

Os outros o julgavam com antecedência e ele se sentia culpado. Nem pensava no dia de seu julgamento, sempre passado e sempre tão próximo.

Dezessete anos e percorrendo o corredor da morte improvisada.

Nada para perder e nada para ganhar.

Reconhecia, no vento frio que vinha de baixo para cima, o homem fulminado.

Para sobreviver fazia versos. Baseava-se na apresentação essencial e viva de todas as emoções. Ciosas de autenticidade. Repletas de irrealismo e deformações. A sublimação do patético. Combinações rítmicas e cortes surpreendentes. Extrema liberdade léxica, sintática e métrica. Revisitava, a todo instante, o lúgubre mundo dos miseráveis, dos desvalidos, dos falidos, das prostitutas e dos marginais.

Não podem ser ruins todos os dias. O tempo é como uma espada sem fio nas mãos de um aleijado, lutando contra o que não pode morrer. O tempo também é uma bolsa vazia nas mãos de um homem morto.

O ar frio penetra pelas frestas da parede. A cama está fria e vazia.

Uma virgem acena com um infinito de possibilidades: “Venha comigo por entre as árvores. Livre-se das garras. Venha rápido. Cuide-se para não cair. Pegue a minha mão. Volte para a sua terra. Deixe-me ver se você consegue superar as amarguras do passado. Minha devoção ao seu lado, e você a mercê de qualquer destino”.

“Eu não sou culpado por ter sido eleito para o inferno!” – pensa.

“Está chovendo fogo dos céus!” – dizem os profetas.

“Quem gostaria de doar um pouco de sua força para ajudar apenados a quebrar pedras como castigo?” – perguntam os idealistas.

Um velho grita: “A primavera desabrocha feridas dolorosas! O verão traz consigo um sol de calor sufocante! No outono caem pedaços de mim e aguardo a chegada do frio... completamente nu. O inverno adentra implacável pelas minhas portas e janelas.”

“Quebre as suas cadeias! Renegue a situação! Uma revolução a cada dez anos!” – aconselha o revolucionário.

“Procuremos a paz aos gritos, em todos os lugares. Em algum lugar, alguém vai concordar com isso.” – propõem os utopistas.

É estranho cair. O vento... como um verdadeiro grito. Grito de vida e de morte. Assemelha-se a um cântico inundando os ouvidos: “Qual o prazo para a destruição? Pode sentir que o fim não será para sempre? As lâminas do destino estão afiadas?”.

Já não existem certezas. As dúvidas desapareceram. Só existe...

A QUEDA!

Queda!

ueda!

eda!

da!

a!

!

( Chakaruna )

 
 
 

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